WELCOME TO CINEMAC

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Tuesday, September 11, 2012

FILME NOIR

Humphrey Bogart

H. Bogart, P. Lorre, M. Astor e S. Greenstreet



Surgido nos anos 40, nos Estados Unidos, a expressão “Film Noir” foi introduzida pelos críticos de cinema franceses do período pós-guerra para designar um grupo de filmes criminais americanos que continha algumas particularidades temáticas, tais como: o cinismo, a corrupção, a prostituição, a opressão e o ambiente “dark”.

As produções “noirs” revelam-se como o oposto da versão glamourizada de Hollywood e apresentam uma duplicidade: o submundo do crime e do vício, e o mundo “respeitável” da burguesia. A dissimulação, a venalidade e a corrupção dominam a maioria das relações sociais, que geralmente terminam em traição e morte. Outro ponto forte do “mundo noir” é o personagem “hard-boiled private eye”, ou seja, o detetive particular durão, que usa muito mais o punho do que o cérebro para realizar as investigações e solucionar os crimes, seu envolvimento com a mulher fatal e as ameaças que sofre pelos seus rivais que são falsos, perversos e violentos.

A raízes do “filme noir” podem ser vistas nos filmes do expressionismo alemão, como “The Cabinet of Dr Caligari” (1919), de Robert Wiene, e M (1931), de Fritz Lang. O estilo e o tema também receberam a influência de alguns filmes franceses dos anos 30, tais como “La Chienne” (1931),  e “La Bête Humaine” (1938), ambos de Jean Renoir. Estes dois filmes foram refeitos posteriormente por Lang,  em Hollywood, recebendo os nomes de “Scarlet Street” (1945) e “Human Desire” (1954) respectivamente. 

Considerado predominantemente um filme B, e geralmente referido como um sub-gênero do crime thriller, ou filme de gangsters, o “Filme Noir” pode também ser encontrado em outros gêneros,  como por exemplo: o melodrama, e o faroeste. Esta é uma das razões pelas quais alguns criticos vêem o filme noir como um movimento, mais do que um gênero. Estes críticos apontam ao fato de que, como em outros movimentos, o “Filme Noir” emergiu em um período de instabilidade política (1941-1958) - a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria - uma época de insegurança reprimida, e paranóia, onde o sonho americano parecia estar em frangalhos e a identidade nacional americana sob forte tensão. Como resultado da guerra, a mulheres precisaram sair de suas rotinas domésticas e ocupar lugar na força de trabalho, ao mesmo tempo, os homens foram retirados da esfera dominante para ir lutar. Portanto, a questão da identidade nacional também foi ligada a questão da identidade masculina, e a troca de papéis. 

Em vez de um gênero ou movimento,  pode-se dizer que o “Filme Noir” foi acima de tudo um estilo visual de fotografia, que enfatiza a cenas noturnas com iluminação de alto contraste, sombras profundas e ângulos oblíquos para criar uma sensação de medo e ansiedade,  e trazer uma atmosfera claustofóbrica e sombria. Como também, uma composição narrativa carregada de tensão em vez de ação e uma predileção por linhas tortuosas e mis-en-scène projetados para perturbar. Outra caracteristica é a utilizacao da iluminação “low key” que tenta cirar cenas em efeito “chiaroscuro” (do italinao, chiaro- luz e oscuro – escuro) ou seja, em cinematografia, o constraste ousado entre luz e sombra.

O nome “Noir”, vem do Francês, que quer dizer negro, preto, escuro. Muitas produções “noirs” foram filmadas em locações reais durante a noite, como o hotel decadente, bares e casas noturnas de mal gosto, clubes de apostas, tendo o ambiente externo a presença de ruas encharcadas pela chuva. Outra caracteristica deste estilo eram as perseguições, os crimes, os assassinatos ou roubos como centro da história, falsas acusações, traição, inevitabilidade do fracasso do protagonista, o final em aberto ou ambíguo, assim como detetives e policiais  mercenários .

Escritores como James M. Cain – “The Postman Always Rings Twice”, “Double Indemnity”, Midred Pierce” and “Serenade”, Raymond Chandler – “The Big Sleep”, Dashiell Hammett  - “The Maltese Falcon” ou “Reliquia Macabra”, e Cornell Woolrich – “No Man of Her Own”,   trouxeram para as telas os anti-heróis masculinos do gênero: como os detetives particulares observadores pessimistas e cínicos de uma sociedade corrupta. Um  exemplo é o personagem Philip Marlowe, interpretado com brilhantismo por Humphrey Bogart, no filme de Howard Hawk “The Big Sleep” (1946), adaptado da obra de Raymond Chandler. Marlowe é um indivíduo contemplativo e filosófico, adora xadrez e poesia. Apesar de não ter medo da dor física, não usa a violência para acertar as contas.

Raymond Chandler também co-escreveu o roteiro de “Double Indemntity” (1944), de Billy Wilder, o arquétipico do “noir”, onde o vendedor de seguros Fred Murray, é conduzido a fraude e assassinato pela amoral e sedutiva Barbara Stanwyck. Muitos dos filmes do movimento “Noir” se concentram ao redor do homem vulnerável, cuja vida é arruinada quando encurralado em uma teia de paixão, mentiras e mortes executadas por uma mulher bela e charmosa, a  sedutora e amoral “femme fatale”.
As cenas com sombras de venezianas sobre o rosto do ator enquanto ele olha através da janela são um ícone visual no “filme noir”, os flashbacks e as narrações que por vezes podem abrir uma lacuna textual entre um narrador masculino e a mulher que ele está investigando. A poliferação de pontos de vista, tipicamente, uma luta entre homens e mulheres. A estrutura de investigação da narrativa, que explora os segredos da sexualidade feminina dentro dos padrões de submissão e dominação; caracterização instável da heroína, susceptível de ser uma “femme fatale” traçoeira. 

Apesar do “film noir” está intrinsecamente associado a um período particular da história, (entre o início de 1940 ao final de 1950), este tipo de produção continuou a atrair a imaginação em um sentido profundo. Nos anos 60, Jean-Pierre Melville manteu o “filme noir” vivo na Franca, com películas fotográficas de crimes e suspense, como “Le Doulos” (1962), “Le Samouraï” (1967) e “Le Cercle Rouge” (1969), estrelado por atores importantes, como Alain Delon, Jean-Paul Belmondo, e Lino Ventura. Alguns anos mais tarde, a volta a este período se deu nos Estados Unidos, nos chamados “post-noir” ou “neo-noir”, filmes como:  “The Long Goodbye”(1973), dirigido por Robert Altman e baseado no romance de Raymond Chandler, de 1953, com o mesmo nome, e roteiro escrito por Leigh Brackett, que co-escreveu o roteiro de “The Big Sleep” em 1946; “Farewell, My Lovely” (1975), dirigido por Dick Richards e com Robert Mitchum e Charlotte Rampling, baseado no romance de “Farewell, My Lovely” de Raymond Chandler; “Chinatown”(1974), de Roman Polanski, com roteiro de Robert Towne e estrelado por Jack Nicholson, Faye Dunaway e John Huston; “Body Heat” (1981), escrito e dirigido por Lawrence Kasdan, com William Hurt, Kathleen Turner, Richard Crenna, Ted Danson, J.A. Preston, and Mickey Rourke, inspirado em “Double Indemnity”; Blood Simple (1983), estréia de Joel Coen (dos irmãos Coen – “The Big Lebowski” ,1998 e “True Grit”, 2010) como diretor, dando uma nova vida ao neo-noir; e  “L.A.Confidential” (1997), de Curtis Hanson. Todos uma homenagem aos “filme noir” do passado.

Produções “neo-noir” mais recentes, como “The Man who wasn’t there” (2001), escrito e dirigido por Joel e Ethan Coen, com Billy Bob Thornton no papel-título,  e “Sin City – A Cidade do Pecado” (2005), dirigido por Frank Miller, Robert Rodriguez e Quentin Tarantino, baseado no romance gráfico homônimo de Frank Miller,  também tiveram sucesso de crítica. O “filme noir” continua a cativar audiências com seu estilo incomparável de cinematografia .

Relíquia Macabra 

Considerado um dos melhores filmes em estilo “noir” de todos os tempos, lançado em 1941 pelo, então, estreante diretor John Houston, “Relíquia Macabra” é uma adaptação para o cinema do romance de Dashiell Hammett. Humphrey Bogart está excelente no papel do anti-herói Sam Spade. Usando um chapéu de feltro e uma capa impermeável, o fumante e beberrão detetive é insolente e esquentado, aproveita-se das espertezas quando necessário, mas possui uma integridade moral que não pode ser questionada. “Relíquia Macabra” é um filme obrigatório, os personagens são marcantes. John Houston conseguiu ser fiel ao livro. Humphrey Bogart tornou-se um mito após imortalizar o personagem Sam Spade.  

Sinopse: 

Depois que seu sócio Miles Archer (Jerome Cowan) foi morto enquanto seguia um homem chamado Thursby, o detetive particular Sam Spade (Humphrey Bogart) decide encontrar o assassino a qualquer preço. Spade interroga uma suspeita, a misteriosa Mrs. Wonderly, cujo nome verdadeiro é Brigid O’Saughnessy (Mary Astor). Entretanto, a mesma confessa que está sendo ameaçada pela pessoa que matou Miles. A investigação conduz a uma trinca curiosa: Joel Cairo (Peter Lorre), Kaspar Gutman (Sidney Greenstreet) e o capanga de Gutman, Wilmer (Elisha Cook Jr). Spade fica sabendo que os três estão à procura de uma escultura coberta de pedras preciosas, o Falcão Maltês. Gutman e seus associados acreditam que o detetive Spade possui o Falcão por causa do seu relacionamento com Brigid. Finalmente, Spade descobre que Brigid é uma mentirosa compulsiva e está tão envolvida na busca do Falcão quanto os outros; e, quando a escultura chega às suas mãos por meio de um capitão (Walter Huston), Spade reúne todos para esclarecer a história. Sabendo que Wilmer, a mando de Gutman, foi o responsável pela morte de Thursby e do capitão, Spade mostra-lhes o Falcão, que não tem valor nenhum. Desapontados, Gutman, Cairo e Wilmer fogem. Spade manda a polícia atrás deles e consegue a confissão de Brigid. Ela matou Miles, esperando se livrar de seu parceiro Thursby, colocando a culpa do assassinato sobre ele. Brigid implora a Spade que não a denuncie, mas, mesmo apaixonado, o detetive se mantém inflexível.

Curiosidades:

Reliquia Macabra é considerado, pelos historiadores do cinema, o primeiro filme clássico  do movimento “noir”;

O livro “The Maltese Falcon” foi lancado em 1929 e serializado na revista Black Mask;

O romance de Hammett foi fimado três vezes,  utilizando duas vezes o título original: a primeira versao, em 1931 “The Falcon Maltese”,  estrelando Ricardo Cortez e Bebe Daniels, a segunda versao, em 1936, entitulado “Satan Met a Lday”, uma comédia adaptada com Betty Davis e Warren William, e a versão de 1941, com Humphrey Bogart e Mary Astor;

Huston estava convencido de que poderia refazer o filme com um roteiro mais preciso e com um melhor desempenho do que as outras duas adaptações. Depois do sucesso do filme, foi planejada uma seqüência, a ser entitulada “The Further Adventures of the Maltese Falcon”, mas depois desfeita quando Huston ficou indisponível e quando Hammett exigiu uma quantia financeira exorbitante;

O personagem Philip Marlowe criado por Raymond Chandler foi fortemente influenciado pelo personagem Sam Spade de Deshiell Hammett, ambos interpretados por Humphey Bogart;

Geraldine Fitzgerald foi originalmente escolhida para desempenhar o papel que Mary Astor interpretou;

O ilustre ator de teatro de origem britânica, Sydney Greenstreet, estava com 62 anos de idade quando atuou no filme de Huston. Seu ótimo desempenho como o "vilão loquaz e enigmático" Kasper Gutman, também chamado "Fat Man”, recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante;

Peter Lorre entretém o público com uma grande performance retratando Joel Cairo. Lorre se sobressai com sua capacidade de usar expressões faciais e corporais para expressar os sentimentos de seus personagens;

Sydney Greenstreet e Peter Lorre, dois talentosos atores dos anos 40, contracenaram mais tarde com Bogart no filme “Casablaca” (1942);

O American Film Institute classificou Bogart como a maior estrela masculina da história do cinema americano.

Ficha Técnica:

The Maltese Falcon.
1941.
First National, Warner Brothers.
101 minutos.
Preto e Branco.
De: John Huston, do romance de Dashiel Hammett.
Fotografia: Arthur Edeson.
Música: Adolph Deutsch.
Com: Humphrey Bogart, Mary Astor, Gladys George, Peter Lorre, Barton Maclane, Lee Patrick, Sydney Greenstreet, Ward Bond, Jerome Cowan, Elisha Cook Jr., James Burke, Murray Alper, John Hamilton.
Indicação ao Oscar: Hal. B. Wallis (melhor filme), John Huston (roteiro adaptado), Sydney Greenstreet (melhor ator coadjuvante).

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