




Nenhum gênero cinematográfico foi tão associado aos filmes mudos como a comédia. O fenômeno do cinema cômico produziu algumas das maiores obras-primas no século XX. A escola cômica norte-americana, em especial, impulsionou e consolidou o cinema como a maior das diversões. Baseada na sátira de cenas do cotidiano, enfatizando lugares, objetos e situações que retratavam particularidades da vida humana, a “civilização das máquinas”, a comédia recorria, com freqüência, ao pastelão ou “slapstick”. O “pastelão” é o resultado da ampliação e da intensificação de uma série de efeitos já codificados no teatro, nas variedades, no circo. Uma simples discussão gerando um conflito envolvendo dezenas de pessoas, que arremessam pastelões (daí a expressão “comédia de pastelão”); centenas de guardas perseguindo um ladrão sem conseguir alcançá-lo, são alguns exemplos. O gênero ganhou impulso com o produtor e diretor, nascido no Canadá, Mack Sennett (1880 –1960), conhecido como o “rei da comédia”. Ao lado dos atores Roscoe “Fatty” Arbuckle, Minte Durfee, Chaste Conklin, Hank Mann, Charlie Chase e Edgar Kennedy, Sennett desenvolveu um estilo de fazer rir único, usando e abusando do “pastelão”, da montagem ágil, do ritmo frenético, e dos roteiros que exploravam situações absurdas e irreais. Entre as criações de Mack Sennett, destacam-se os divertidos Keystone Cops., enlouquecidos e anárquicos policiais que provocaram verdadeiras gargalhadas nas platéias com sua maneira agitada e quase surreal de combater o crime. Foi, também, Sennett quem descobriu talentos como Charles Chaplin e Buster Keaton. Outro grande nome da comédia muda foi o fantástico francês Max Linder (1883-1925), que, em 1910, já havia alcançado a glória. Suas comédias são farsas de interesse humano, que restituem a rua como cenário, o movimento como expressão. Seu tipo cavalheiro, elegante, de espírito galante e sedutor (mas sempre sem dinheiro), um malandro simpático que usava cartola, gravata, bengala, bigodes e cabelos bem penteados, conquistou a platéia do mundo inteiro, influenciando outros comediantes, entre eles Charles Chaplin. Linder atuou em várias comédias, nos Estados Unidos, como “Max comes across”, “Max wants a divorce” e Max in a táxi”, todas de 1917. Os memoráveis Oliver Hardy (1992-1957) e Stan Laurel (1890-1965), famosa dupla conhecida no Brasil como “o gordo e o magro” são outros nomes memoráveis dos filmes silenciosos. A química entre os dois era magnética e funcionava com perfeição na tela. Hardy era grande, mandão e o articulador intelectual das trapalhadas; e Laurel o seu oposto, pequeno, frágil, chorão e pueril. Entretanto, os geniais Buster Keaton, Charles Chaplin e Harold Lloyd são avaliados como os maiores comediantes da comédia antiga. Joseph Francis Keaton Jr ou Buster Keaton criou um tipo inesquecível: “o cômico que nunca ri”, personificando um herói ingênuo e atrapalhado cuja fé nos valores morais e em sua própria obstinação o leva a triunfar. Keaton recebeu o apelido Buster (que em inglês significa “demolidor”), do renomado mágico húngaro Harry Houdini, quando tinha apenas 6 meses de idade, por ser resistente aos tombos. Fez diversos filmes, como “The Three Ages (1923), Our Hospitality (1923), Sherlock Jr. (1923), The Navigator (1924), “Battling Butler” (1926), mas foi consagrado pela produção, de 1927, “A General” onde fez a sua melhor performance como ator e diretor. Sempre quando pensamos em filmes mudos, logo lembramos de Charles Spencer Chaplin (1889-1977), que imortalizou no cinema o seu tipo mais famoso: Carlitos, o agradável vagabundo que usava bengala, chapéu coco e calças largas. Realizou obras-primas como ‘O Garoto”(1921), “Em Busca do Ouro”(1925) , “O Circo”(1928) e teve a ousadia de continuar fazendo filmes mudos em plena “febre” do cinema falado, como “Luzes da Cidade”(1931) e “Tempos Modernos” (1936). Harold Lloyd (1893-1971), também inventou um tipo famoso: um homem comum, com boas intenções, muitas vezes assustado pelo mundo insano que o rodeava, um otimista, sortudo e tolo que usava um par de grossos óculos de aros redondos. Durante os anos 20, sua bilheterias concorriam com as de Chaplin e Keaton. Fazia várias cenas perigosas e, na maioria das vezes, dispensava dublês. A combinação do seu jeito engraçado com a sua habilidade acrobática lhe deu notoriedade. Seu filme mais famoso foi “O Homem-Mosca” (1923). Os filmes eram silenciosos (acompanhados apenas pelo som da música de piano ou pequenas orquestras), todavia, o barulho que se ouvia dentro das salas escuras eram as risadas soltas, os aplausos demorados, a alegria contagiante do público que se encantava com as cenas hilariantes e as magistrais “brincadeiras” dos “palhaços” na grande tela. O mundo nunca sorriu tanto.
Dicas de filmes :
EM BUSCA DO OURO
Muitos filmes de Charles Chaplin foram os preferidos do público no mundo inteiro durante décadas, entretanto, “Em Busca do Ouro” (1925) é considerado o mais importante de suas obras, pelo qual o cineasta/ator queria ser lembrado. Chaplin adaptou para o cinema duas fontes históricas de elementos dramáticos ao seu estilo: a real epopéia dos exploradores de ouro (1893-1910), no Alaska, onde milhares de homens desesperados tentavam mudar sua vida em busca de riqueza; e o episódio da expedição de Donner, em 1846, que procurava uma passagem entre as montanhas para chegar à Califórnia, e que resultou em uma tragédia. O diretor narra as aventuras de Carlitos pela “imensidão branca” e focaliza, em especial, o tema da fome. É um filme obrigatório, principalmente pelas cenas antológicas, como a da famosa dança dos pãezinhos, o devaneio do aventureiro Big Jim (Mack Swain), que vê Carlitos transformado em frango, e a mais célebre, o banquete da bota cozida. O filme, com 83 minutos de duração pode ser encontrado nas versões VHS e DVD.
A GENERAL
“A General” foi o projeto preferido de Buster Keaton, onde ele se entregou de coração e alma, seu filme mais épico e, também,o mais caro. O cineasta conta a história do maquinista Johnnie Gray (Keaton), apaixonado por sua locomotiva a “General” e por sua namorada Annabelle Lee (Marion Mack), que quer se alistar como soldado Confederado (sul) para lutar na Guerra Civil Americana contra o exército da União (Norte). Entretanto, o mesmo é rejeitado, pois seus serviços como maquinista seriam mais úteis. Por este motivo, sua amada o rejeita por considerá-lo um covarde. Tendo perdido seus dois amores, que foram seqüestrados por um comando de espiões ianques, Johnnie se lança à perseguição, entrando no território inimigo, descobrindo os seus planos e resgatando Annabelle e “General”. Perseguido pelo exército opositor, Johnnie consegue chegar à frente de combate e, ainda, participar heroicamente da batalha final. Envolvente e divertido “A General” é uma jóia rara do cinema. Pode ser encontrado nas versões VHS e DVD e tem 75 minutos de duração. Para saber mais sobre o cinema mudo: *Vocês ainda não ouviram nada. A barulhenta história do cinema mudo. (Celso Sabadin Lemos, Editorial, 2000).
Dicas de filmes :

Muitos filmes de Charles Chaplin foram os preferidos do público no mundo inteiro durante décadas, entretanto, “Em Busca do Ouro” (1925) é considerado o mais importante de suas obras, pelo qual o cineasta/ator queria ser lembrado. Chaplin adaptou para o cinema duas fontes históricas de elementos dramáticos ao seu estilo: a real epopéia dos exploradores de ouro (1893-1910), no Alaska, onde milhares de homens desesperados tentavam mudar sua vida em busca de riqueza; e o episódio da expedição de Donner, em 1846, que procurava uma passagem entre as montanhas para chegar à Califórnia, e que resultou em uma tragédia. O diretor narra as aventuras de Carlitos pela “imensidão branca” e focaliza, em especial, o tema da fome. É um filme obrigatório, principalmente pelas cenas antológicas, como a da famosa dança dos pãezinhos, o devaneio do aventureiro Big Jim (Mack Swain), que vê Carlitos transformado em frango, e a mais célebre, o banquete da bota cozida. O filme, com 83 minutos de duração pode ser encontrado nas versões VHS e DVD.

“A General” foi o projeto preferido de Buster Keaton, onde ele se entregou de coração e alma, seu filme mais épico e, também,o mais caro. O cineasta conta a história do maquinista Johnnie Gray (Keaton), apaixonado por sua locomotiva a “General” e por sua namorada Annabelle Lee (Marion Mack), que quer se alistar como soldado Confederado (sul) para lutar na Guerra Civil Americana contra o exército da União (Norte). Entretanto, o mesmo é rejeitado, pois seus serviços como maquinista seriam mais úteis. Por este motivo, sua amada o rejeita por considerá-lo um covarde. Tendo perdido seus dois amores, que foram seqüestrados por um comando de espiões ianques, Johnnie se lança à perseguição, entrando no território inimigo, descobrindo os seus planos e resgatando Annabelle e “General”. Perseguido pelo exército opositor, Johnnie consegue chegar à frente de combate e, ainda, participar heroicamente da batalha final. Envolvente e divertido “A General” é uma jóia rara do cinema. Pode ser encontrado nas versões VHS e DVD e tem 75 minutos de duração. Para saber mais sobre o cinema mudo: *Vocês ainda não ouviram nada. A barulhenta história do cinema mudo. (Celso Sabadin Lemos, Editorial, 2000).
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