

O CINEMA MUDO - BRASIL
(29/03/2004)
O cinema foi apresentado ao público brasileiro, pela primeira vez, no dia 08 de julho de 1896, na Rua do Ouvidor, nº 57, Rio de Janeiro. Os filmes eram todos vindos da Europa.
O primeiro local a projetar os filmes de maneira regular foi o Salão de Novidades de Paris, inaugurado em 31 de julho de 1897, na Rua do Ouvidor, Rio de Janeiro. As produções eram em sua maioria vindos da Europa e dos Estados Unidos. O italiano Paschoal Segreto, proprietário do estabelecimento, recebeu o então presidente da República, Prudente de Moraes e comitiva para uma exibição pública, em junho de 1888.
Até 1905, Paschoal e seu irmão Gaetano eram os únicos produtores cinematográficos do país e rodaram vários filmes sobre acontecimentos sociais e políticos da época. Gaetano Segreto entrou para a história como o realizador do primeiro filme brasileiro chamado “Vistas da Baía de Guanabara”, uma filmagem turística da entrada da cidade do Rio de Janeiro, quando estava a bordo do navio francês Brésil.
O cinema foi tornando-se cada vez mais popularizado e aceito em todo o país. De norte ao sul a produção cinematográfica apresentou-se bastante intensa. Filmava-se de tudo, cine-jornais, reconstituição de casos policiais, episódios históricos, adaptação de obras literárias, documentários, ficções, dramas, romances, etc.
Contudo, durante o período mudo, que se estabeleceu no Brasil até o início dos anos 30, filmes foram feitos isoladamente, em várias partes do país. Hoje essa produção é conhecida como CICLOS REGIONAIS, e os principais foram:
1) Ciclo de Campinas: cujo principal filme chamou-se “João da Mata”. Era um filme ainda com alguma imitação das aventuras norte-americanas, principalmente os "westerns", mas que já trazia alguma preocupação social, pois se tratava de uma história de um sitiante que perde sua terra para um grande fazendeiro;
2) Ciclo de Porto Alegre: com filmes feitos pelo cineasta Eduardo Abelim. Sobre esse cineasta existe um filme chamado: “Sonho sem fim”;
3) Ciclo do Recife: com muitos filmes realizados naquela cidade, na década de 20. O principal deles intitula-se “Aitaré da praia”;
4) Ciclo de Guaranésia: (MG) cujo representante é o cineasta Almeida Fleming, com seus filmes: “In hoc sigo vince” e “Paulo e Virgínia”;
5) Ciclo de Belo Horizonte: com filmes feitos pelo italiano Igino Bonfioli: “Canção da Primavera”, “Tormenta” e pelo português José Silva: “Os Boêmios perante Deus”;
6) Ciclo de Cataguases (MG): de todos os ciclos, o mais importante, pois lançou as raízes do cinema brasileiro. Tem como representante principal o cineasta Humberto Mauro. Seu primeiro filme “Valadião, o cratera”, é um curta, que imita filmes de aventura americanos exibidos na época. Logo depois Mauro cria uma Sociedade Anônima com as pessoas da cidade, a “Phebo Sul América Film”. Produz, escreve e dirige: “Na primavera da vida” (1926). No ano seguinte, 1927, é produzido “Tesouro perdido”. Até aqui Mauro realiza um cinema um tanto provinciano, mas já demonstra um senso de brasilidade, criando imagens do homem e dos ambientes brasileiros. No Rio de Janeiro, o último filme ganha o prêmio, "MEDALHÃO CINEARTE", outorgado pela revista especializada em cinema do mesmo nome. O prêmio gera uma amizade entre Mauro e Adhemar Gonzaga, da revista, que passa a prestigiar o cineasta mineiro.
O próximo filme de Humberto Mauro é “Brasa Dormida”, (1928) de produção mais ambiciosa, com algumas cenas rodadas no Rio de Janeiro. Neste filme Mauro conta na fotografia com Edgar Brazil, que se tornaria um dos maiores fotógrafos de cinema da época, tendo também fotografado em 1930 o famoso filme de Mário Peixoto: “Limite”. Em 1929, Humberto Mauro realiza o seu quarto longa-metragem, “Sangue Mineiro”, com imagens feitas em Belo Horizonte, tendo como sócia na produção a portuguesa Carmem Santos, que também se tornaria uma das pioneiras do cinema no Brasil.
“Brasa Dormida” é considerado um dos três mais importantes longas-metragens do cinema brasileiro. Os outros dois são “Barro Humano”, de Adhemar Gonzaga e “Limite”, de Mário Peixoto.
Contudo, para efeito histórico o primeiro filme longa-metragem brasileiro foi “O Crime dos Banhados”, com mais de duas horas de duração, rodado entre 1913 e 1914, em Pelotas, Rio Grande do Sul. Baseado em fatos reais, fala das lutas políticas da região, que culminaram com o massacre de uma família inteira. Seu roteirista, produtor, diretor e cinegrafista foi o português Francisco dos Santos.
Dica de Filme:
LIMITE (1931) de Mário Peixoto.
“Limite” foi recuperado pela extinta Embrafilme, e pode ser visto em vídeo. Com 110 minutos e músicas de Ravel, Stravinski, Villa Lobos entre outros, é poético, intimista, repleto de fusões, cortes e ângulos dos mais criativos já feitos. É o único da carreira de Mário Peixoto, que tinha apenas 22 anos quando o rodou.
A frase de Clarice Lispector “a vida é tão curta e eu não estou agüentando viver” fala da capacidade humana de suportar a dor e o cotidiano. O tema no “Limite” é a ânsia do homem pelo infinito. A situação é um barco perdido no oceano com três náufragos: um homem e duas mulheres. O filme começa no barco, onde eles estão abatidos e deixando de remar, parecendo conformados com o destino.
“Limite” se projeta sobre a vida de três pessoas que falam de suas vidas. Dessa maneira nos proporciona uma visão pessoal de cada narrador. A realidade aparece como um contínuo caminhar, nada é descritivo. O estremecimento dos personagens é transfigurado para nós em imagens, para entendermos os sentimentos dos personagens.
Embora não tenha sido distribuído comercialmente, “Limite” conquistou nas sessões especiais em que costuma ser exibido um grupo de cinéfilos que o mantêm vivo até hoje. Primeiro filme brasileiro a alcançar um indiscutível sucesso de crítica, figura hoje ao lado dos grandes clássicos da cinematografia mundial. Ainda que pouco visto, tornou-se citação obrigatória na história do cinema.
Limite pertence à categoria dos filmes especiais, pois até hoje é objeto de estudos para a teoria do cinema, a literatura, a semiologia e as plásticas. Foi considerado o melhor filme brasileiro de todos os tempos em duas esquetes nacionais.
Sinopse:
Três personagens, um homem e duas mulheres estão num barco em alto mar. Esgotados, param de remar, abandonando-se à própria sorte e relembram o passado.
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